domingo, 10 de outubro de 2010

Um piano na Estação

A menininha de tranças dançou, enquanto era puxada pelo braço. A mãe apertou o passo e nem se deu conta. A família de bolivianos parou, mas manteve distância envergonhada. O garoto de calça larga e boné passou correndo, depois voltou. Um senhor de blusa azul já observava ressabiado.

Um trauseunte virou pianista. O rapaz de camisa social tomou o posto de virador de partituras. O tenor afoito já aguardava, ao lado. Ele arriscou uma longa galopeira, prova de resistência de gogós. As notas ecoaram pelo sagüão e chegaram até a plataforma de trens. Palmas, palmas, muitas palmas.

A garota que ameaçou me assaltar na calçada encostou para ouvir também. Ali era somente uma criança. Um mendigo distribuía sorrisos que pediam dentes. Duas gringas fotografavam. E muita gente passava ao largo, sem parecer sequer tomar conhecimento do que acontecia.

O tenor simpático tentou convencer a audiência a arriscar uma música também. Ele é frequentador do local, explicou. Sempre encontra conhecidos para cantar ali. Trazia roupas alinhadas e partituras amassadas. Ninguém se animou. Ele continuou, até que um rapaz assumiu piano e voz num lindo reggae.

Tudo isso acontecia ao redor de um piano na movimentada Estação da Luz, região central da cidade de São Paulo. O espetáculo só é possível porque o instrumento fica à disposição da população. Paulistanos e paulistandos, turistas de passagem ou imigrantes residentes, interessantes pela sua diversidade e pela capacidade de cultivar emoções nos mais cinzas e apressados locais da cidade.



Um show da população na Estação da Luz

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